Abre em nome da lei. Em nome de que lei? Acaso lei sem nome? Em nome de que nome cujo agora me some se em sonho o soletrei?
Abre em nome do rei.
Em nome de que rei
é a porta arrombada para entrar o aguazil que na destra um papel sinistramente branco traz, e ao ombro o fuzil?
Abre em nome de til. Abre em nome de abrir, em nome de poderes cujo vago pseudónimo não é de conferir: cifra oblíqua na bula ou dobra na cogula de inexistente frei.
Abre em nome da lei. Abre sem nome e lei. Abre mesmo sem rei. Abre sozinho ou grei.
Não, não abras; à força de intimar-te repara: eu já te desventrei.
Bem Vistas as Coisas, hoje - no Brasil que Carlos Drummond de Andrade poetizou - a ditadura intimou a democracia atirando: "Não, não abras;/ à força de intimar-te repara:/eu já te desventrei."