Um dos meus poetas prediletos – e são tantos, confesso – é, indubitavelmente, Cesário Verde.
Descobri-o na pré-juventude e não mais o larguei, já que ocupa lugar cativo no meu interior mosaico literário composto por vários estilos.
Escritor de quotidianos, errante entre a descrição intuitiva do bucolismo e o frenesi citadino, poder-se-ia dizer que é um naturalista que confere à sua escrita uma pintura em aguarela de acasos diários.
Sem prolongamentos retóricos, reservado no romantismo, não deixa de trespassar o gosto ansioso pela descoberta sentimental, fugindo, pois, igualmente, aos cânones realistas pela imagética imanente que se contrai da leitura tão impressionista quanto sagaz dos pormenores do que vê quando calcorreia, por exemplo, a cidade.
Além de uma estética aprimorada, na composição escrita, realçou-me – desde sempre – como em tão curta existência, Cesário, foi capaz de marcar tanto o seu período, trazendo-nos, até hoje, o privilégio da sua visão localizada no tempo.
Esta edição da Estante – tenho a segunda – abre-se com considerações introdutórias à vida e ao perfil literário do autor, pela mão de António Capão, para aglutinar – de forma arrumada – o seu espólio poético.
Deixo-vos, para abrir o apetite, uma estrofe em quintilha de um dos meus poemas preferidos: “Um Bairro Moderno”:
<<Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como dalguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que me lembrou um ventre>>.
Bem Vistas as Coisas, Cesário Verde foi um poeta singular.
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