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Foto do escritorOrlando Coutinho

Ricardo Coração-de-Leão



Este artigo, de minha autoria, foi originalmente publicado no Jornal de Guimarães a 31 de Julho de 2024.

 O “Estado da Arte” não é firme, mas começa a desenhar-se. No PS, se Luís Soares apostar na “linha do tempo”, o que não creio, Ricardo Costa absolutiza-se e fará o que quiser do PS local.

No PSD, Ricardo Araújo, resistindo ao legítimo escrutínio e pressões internas e externas, consagrar-se-á líder. Sabendo do risco pessoal que corre e apesar das válvulas de escape que dispunha e das boias de salvação lançadas, afirmou com total determinação a sua entrega a Guimarães. Tenho de o admirar por isso: não teve cálculo, não teve medo, não se sublimou em snobismos de ocasião, confrontou o partido para uma escolha clara e será confirmado para uma luta que tem tanto de oportunidade como de dificuldade. A História é feita de corajosos e Ricardo Araújo mostrou-se Valente!

Já o disse que considero um erro os Deputados irem a votos em eleições locais. Guimarães perde um lugar de referência nacional, apouca-se o eleitor e em partidos grandes dá ideia de falta de quadros o que não é verdade. Mas se no PS se trata somente de soberba para não dar aso a outros protagonistas – já que a máquina socialista sobreleva qualquer candidato menos notável – no PSD as contas são outras; com uma comunicação social que não tem a dimensão da de Braga, com redes de conexão e publicidade rígidas e caras, a Assembleia da República, como aconteceu com Cirilo, Guerreiro e Coelho Lima é um passaporte para a notoriedade se o lugar for bem usado. E até nisso Araújo arriscou. E portanto, com as ressalvas que fiz, poderemos, em último caso a ter um confronto de Ricardos. Costa, do PS, pelo atabalhoamento a que votou o seu percurso (ora vereador, ora de fora; ora candidato à Distrital, ora a deixa a Luís Soares; ora proto-edil, ora deputado;) andará num léxico justificativo a ponto de deixar o “segredo do negócio”, i.e. o programa eleitoral, nas mãos de uma consultora internacional como anunciou em Donães. No difícil equilíbrio “pedronunista” em ter de assumir o fraco legado de Bragança para ter “Santa Clara” a seu lado e mostrar-se com uma nova energia para pôr fim à tal letargia, a mensagem será esparsa, difusa e nada tautológica, ou seja, ficará nas mãos da sociologia local que, com sorte é eminentemente socialista. Araújo, deputado para colher notoriedade e mostrar poder, tem de virar a mesa! Não basta ter sido o primeiro presidente do Conselho Municipal da Juventude; de ter sido o primeiro jovem de Guimarães a liderar uma rede internacional de juventude; de ser um associativista popular que mobilizou o movimento associativo em Guimarães quando presidiu ao Círculo de Arte e Recreio; de ter uma vasta experiência de gestão política, pública e privada conhecida e reconhecida; de ser culto e academicamente sólido; por outras palavras, de ser o melhor de nós na geração dos 35 – 55 anos, porque se preparou, fortaleceu e mostrou capacidade e competência. De ser livre e dar liberdade de pensamento, mesmo discordando, aos seus pares, qualidade rara nos dias de hoje em paragens partidárias. Nada disso, por incrível que pareça é suficiente num concelho eleitoralmente complexo e conservador. Beneficiando de boas relações com o melhor governo da nação dos últimos 20 anos, Araújo terá em Guerreiro e Rui Armindo dois pontos-chave da sua estratégia eleitoral. Se conseguir - pôr Rita Júdice a lançar as obras do Tribunal; Pinto Luz a inscrever Guimarães na alta velocidade; Maria Graça Carvalho a trazer a Capital Verde, coisa que os socialistas não conseguiram em 10 anos; Fernando Alexandre a recuperar o Centro de Ciência Viva e a aproximar a Universidade do Minho a Guimarães. Dalila Rodrigues a financiar o que resultou da nossa Capital Europeia da Cultura e Pedro Reis a trazer confiança aos empresários locais e juntar os Presidentes do Quadrilátero para a mobilidade regional, mantendo-se perto de Montenegro – pode haver uma surpresa eleitoral em que os vimaranenses reconheçam que mais que o partido é quem faz por eles que vale. Mas tem de haver união. A superioridade de pensar global em vez de particular, de mobilizar em vez de se esconder e agregar influência social sem receios nem tacticismos calculistas, que vão da freguesia a nível nacional, mostrará quem está preparado para a arte da política no futuro.

No final, ressalvas feitas e se não houver surpresas, veremos que Ricardo terá o “Coração-de-Leão”.       

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