Com um líder de trejeito atrapalhado, mas com firmeza nas propostas – goste-se, ou não, delas - os conservadores britânicos obtiveram uma das suas mais retumbantes vitórias nas eleições legislativas desta semana.
Mas comparar Boris Johnson a Bolsonaro ou a Trump é-lhe insultuoso. É um facto que o conservador britânico, astuto, deixou-se maquilhar pela onda internacional da comunicação que pede extravagâncias radicais para sair da morna tecnocracia financeira que o neoliberalismo trouxe às relações institucionais. Deu-se bem. Mas não é isso que explica a sua vitória. Tanto mais que estamos a falar de um “desajeitado construído”, mas com formação em humanísticas, o que lhe permitiu perceber que as suas opções democráticas e soberanísticas, não são o fim da História, antes – até – modelos bem-sucedidos e comummente experimentados. Vejamos, alguns pontos que em meu entender justificam a magnânime eleição.
1º Discurso claro. Ao contrário dos seus antecessores partidários que ameaçavam sair da Europa, mas “não saiam de cima”, ademais negociavam para ficar tudo igual, Boris - com um resultado em referendo democrático que interpreta o que o povo quis, ou seja, soberania nacional – prometeu cumprir esse desígnio. De um modo claro e inequívoco, sem as demagogias de Farage, nem enviesamentos. Mostrou-se determinado na ação e pronto a pôr fim ao vexame a que o Reino Unido tem estado exposto ante as sucessivas indefinições.
2º É aglutinador. Perante as ameaças escocesas de separação, ao bom jeito conservador, Boris responde com autoridade; não a cardada, antes a consuetudinária. Afirma-se como o garante de um Reino efetivamente unido, o que lhe dispõe de uma investidura estável e previsível. Nas primeiras negociações com a União Europeia pôs a diplomacia a funcionar e no jogo de equilíbrios internacional consegue manter as alianças que o Império Britânico sempre dispôs. Isso dá votos.
3º Uma esquerda anedótica. Corbyn é um político “gágá”. Teve imensas oportunidades de dar um xeque-mate a uma errante Teresa May; não conseguiu. Porquê? Porque se encostou a uma esquerda radical; porque não disse que defenderia o resultado do referendo, mas também não disse o contrário; porque – no fundo – ninguém sabia ao certo o que queriam os Trabalhistas. Nem com a UE, nem com os parceiros de sempre, nem para o próprio país, a não ser um ajuste de contas com a herança thatcherista. Uma liderança ultrapassada e sem soluções. Se ao menos dissessem que queriam um novo referendo, o discurso – poderia ser derrotado – mas era claro; assim Corbyn não percebeu que, os eleitores, numa era em que desconfiam que os políticos meteram na gaveta as ideologias clássicas, atentam sobretudo a projetos reais e o chefe Trabalhista não tinha nenhum a apresentar.
Dito isto, com trapalhadas e incongruências, com populismos e indefinições, com desvios e travões, verificou-se que a democracia britânica – mesmo quando tentaram suspendê-la – funcionou sempre e de modo articulado com respeito integral, no final, pelos diferentes papeis de cada um. E agora sim, pode dizer-se que a democracia saiu reforçada e o povo, com a sua razão, ganhou.
Bem Vistas as Coisas, o povo Britânico – com toda a razão – deu a vitória aos Tories e quer ver cumprido o seu poder soberano e democrático.
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