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  • Foto do escritorOrlando Coutinho

A Galafura de Torga



Comemora-se hoje a efeméride do nascimento de Miguel Torga. Foi há 110 anos. Um dos mais eminentes escritores portugueses. O Município de Sabrosa prestará uma justa homenagem, com um concerto de Mísia em S. Martinho de Anta, a quem não deve ser esquecido por terras transmontanas.

Recordo, na minha juventude, que era um dos autores que entrava no alinhamento literário das tardes de sábado, quando especialmente nubladas: semiscarúnfias como costumava rematar o meu Avô. Talvez porque convidativas de um sebastianismo que entroncava com os aspetos mais telúricos de Torga. Da sua escrita recordo, também, o trejeito bucólico e existencialista. Quem sabe por isso é que a “Cega-Rega” terá sido, nos “Bichos”, o que melhor fez a síntese da ligação com que lhe fiquei.

Quer em pena corrente (prosa) ou em estrofe, sabia – com aliterações metafóricas, ou uma prosopopeia peculiar, criar o cenário de encontro do homem consigo mesmo e / ou com a natureza envolta.

Um “sujeito poético” com quem devemos “perder” tempo.

O meu Pai, seu conterrâneo, ensinou-me o caminho para S. Leonardo de Galafura no Peso da Régua. Uma catedral, feita pela natureza – local “imperativo” dos que recomendo - que o poeta descreve assim:

São Leonardo de Galafura

À proa dum navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, Capitão no seu posto De comando, S. Leonardo vai sulcando As ondas Da eternidade, Sem pressa de chegar ao seu destino. Ancorado e feliz no cais humano, É num antecipado desengano Que ruma em drecção ao cais divino. Lá não terá socalcos Nem vinhedos Na menina dos olhos deslumbrados; Doiros desaguados Serão charcos de luz Envelhecida; Rasos, todos os montes Deixarão prolongar os horizontes Até onde se extinga a cor da vida. Por isso, é devagar que se aproxima Da bem-aventurança. É lentamente que o rabelo avança Debaixo dos seus pés de marinheiro. E cada hora a mais que gasta no caminho É um sorvo a mais de cheiro A terra e a rosmaninho!

Bem Vistas as Coisas, Torga enche a alma em verso ou em prosa.


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