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  • Foto do escritorOrlando Coutinho

Fiat Lux



O ano findo ficou marcado pelo quincentenário do nascimento de Francisco de Holanda.

Este vulto polímata do renascimento, embora uma defesa da sua alocação artístico-cultural ao maneirismo não seja despropositada, perpetuado em Guimarães pela cultura – académica com a sua prestigiada Escola Secundária (onde o esclarecedor texto na página do estabelecimento de ensino, de autoria do Dr. José Craveiro, nos transporta para a sua genealogia como escola de desenho industrial e a evolução subsequente) e também popular, pelo desporto, no clube de andebol citadino – notabilizou-se pelo traço, desenho, pintura e influência na arquitetura.

A Sociedade Martins Sarmento, fez bem, recentemente, ao lembrar esta efeméride com uma exposição sobre o autor, nos seus passos perdidos.

Já que tantos milhares de alunos e atletas passaram nas instituições de ensino e desportiva ao longo dos anos em Guimarães – ganhando um espírito de pertença e identidade com este personagem – uma passagem mais aprofundada, ainda que neste espaço mais ligeira, sobre a sua influência, conservará, por certo, o espírito do que é ser da(o) Xico.

De uma notável tese de doutoramento da Doutora Maria Teresa Viana Lousa, gerou-se um livro, de sua autoria, que recomendo leitura e que faz cumprir este desiderato de conhecimento mais substantivo da vida e obra deste ícone cultural e identitário, pelas vias já referidas, da cidade de Guimarães: “Do Pintor Como Génio na obra de Francisco de Holanda”.

Contemporâneo de Sá de Miranda, privou com Miguel Ângelo entre outras proeminentes figuras da sua época, mas o seu real reconhecimento perpassou o seu tempo de vida, já que, só no século XIX vê as suas principais obras publicadas.

Foi um cultor e defensor perene da valorização das artes, mormente da pintura e - talvez por isso - a sua inicial e fulgurante carreira não teve os mesmos picos de estado já que em todos os tempos sempre foi difícil proclamar o amor às artes junto do universo que tanto condiciona as elites dirigentes que, ao tempo (não diferente de outros), D. Sebastião e depois já sob o domínio filipino, tinham no alinhamento programático o esforço bélico para expansionismo territorial e consequentemente comercial.

Heuristicamente pode dizer-se que, para Francisco de Holanda, o artista tem, no código genético, uma centelha divina e esse pretexto é suficiente para a defesa, que a fez sempre e com afinco, das criações que esses seres “demiúrgicos” produzem. O quadro, que colora este artigo, cuja a nomenclatura – “O segundo dia da criação do mundo” - e inscrições iconográficas, nos transporta para um certo iniciatismo é consequente com esta visão do “artista tocado”.

As suas marcas arquitetónicas passam pela dimensão castreja, onde se aventura sustentadamente numa planta de uma fortaleza marroquina, mas também pelo toque urbanista - onde a sua traça é realçada num ensaio que o próprio discorre sobre a falta de ordenamento na cidade de Lisboa com um esquisso sobre a reedificação da ponte de Sacavém.

Com obras ensaísticas e iconográficas espalhadas pelo Mundo, mormente em Espanha, Francisco de Holanda é merecedor do reconhecimento de uma cidade que o adotou, quem sabe, com o esforço de ver por cá – ainda que em trânsito – algum do seu acervo original.

Bem Vistas as Coisas, pela marca cultural que deixou e pela sequente e alargada afirmação identitária, Francisco de Holanda é de todos.


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