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  • Foto do escritorOrlando Coutinho

Conan Osíris

Atualizado: 9 de jul. de 2023


Na sociedade panóptica e globalizada, que hoje vivemos, há um instrumento que ganhou centralidade “vital”: o telemóvel. Aparelho leve, de pouca dimensão é ponto de fuga da realidade vivida à virtual. A sua evolução foi ciclópica. De “porta-tijolo” com a unifuncionalidade telefónica nos anos noventa do século passado, a livro, câmara de vídeo, fotográfica, jogos, e também telefone (desta feita com imagem incluída), este instrumento arrebatou o comportamento humano recente. É suporte alimentício das crianças, é pretexto de fuga social quando não queremos manter conversas incómodas com conhecidos, é bilhete de avião, marcador de dormidas, de viagens curtas, ou longas, enfim tudo lá se passa desde que estejamos conectados na teia universal. Nos dias de hoje, há quem – como eu – acompanhe mais notícias por esta via, do que pela própria televisão, reservando o jornal em papel (feliz de ter essa possibilidade) para os intervalos do trabalho.

Os choques geracionais sempre se deram em todas as épocas. De Variações a Ney Matogrosso, passando por Mercury, as afirmações artísticas relevantes - resultantes de realidades vividas, em palco só representativamente interpretadas - nunca se deram às massas sem inovação, provocação ou mesmo disrupção.

O Festival da Canção em Portugal teve, em 2019, uma reprodução artística e plástica coadunante ao consumidor da denominada Geração Z. Não é singular, já que a primeira pessoa a rasgar o conservadorismo de Salvador Sobral foi a “galinha israelita”. Mas os exemplos multiplicam-se, vejam o exemplo islandês que figurará na final disputada no Estado judaico.

Conan Osíris, um homem do seu tempo, percebeu o seu espaço e a sua geração. Trouxe uma interpretação incomum que ofende os “Velhos do Restelo” acusando-o de “mau gosto”. Pois a coreografia maleável – como a flexibilidade imposta às novas gerações – o sorriso externo forçado e mecanizado por acessórios que não conseguem esconder o taciturno humano interior, ainda inadaptado ao contraste do que lhe disseram, ante o que vivem; a miríade de cores, o caleidoscópio de sons – assim mesmo – mesclado com um bailarino em passo tendu, entre várias formas de expressão, refletem a “rapidación” imagética a que estamos submetidos num quotidiano que não sabemos se internáutico, se vivido, ou se, mesmo, internauticamente passado.


A interpretação “Telemóveis”, simplista na letra sem complexidade musical e por tudo isto global e carregada de significado cultural, perpassando vários sons e geografias, que aderem – como se pode ver no Quénia - trás à tona, para discussão, a dimensão ética e humana do mundo tecnológico. Uma revisão de literatura passando por Lewis Mumford, Marcuse, ou até mesmo por André Gorz, coloca em confronto a utilidade e a alienação ou as novas buscas que nos esperam na dialética pública sobre o “novo trabalho” e até mesmo as diferentes relações humanas.

Como já havia dito noutros espaços, a inovação disruptiva, que Clayton Christensen "cunhou", aponta para fenómenos de corte com o mainstream, que – naturalmente - reage. A sátira inteligente com que Conan Osíris coloca ao espelho o Homem em que nos estamos a tornar é bombástica!

Bem Vistas as Coisas, a sua interpretação pode ser vista como um modo de resistência, ou constatação cultural à (i)mediação globalista a que estamos votados via um equipamento de bolso...


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