O ilustre vimaranense Esser Jorge lança a pertinente questão que dá título a este artigo, diferenciando as duas condições como, sendo a primeira << uma consequência de atos políticos alheios à pessoa >> e a segunda <<da vontade própria sem se deter nos porquês da questão>>.
Está bom de ver que a resposta, que a todos nos detém à pergunta em epígrafe, só há uma como válida e correta: Humanos!
Desde 2008, pelo menos, que a Fidestra, associação que integro a direção com os meus queridos amigos Fernando Moura e Silva e Maria Reina, se dedica ao estudo das questões relacionadas com Migrantes. Aliás a Maria Reina integra a Plataforma Internacional para a Cooperação e a Migração enquanto Vice – Presidente representando a já referenciada associação.
Se é certo que, nestas organizações, se busca uma resposta “democrata – cristã” para tamanha questão, a verdade é que não se afigura fácil, apesar dos muitos académicos, assistentes sociais, migrantes, filósofos, políticos e demais agentes sociais que de todos os cantos do mundo temos vindo a juntar em vários seminários internacionais organizados sobre a temática da Migração e a(s) realidade(s) da mesma no espaço europeu. Há caminhos já traçados que urgem ser analisados pelo poder político europeu, em resposta necessariamente conjunta.
Independentemente da origem ou da consequência de mais um “rótulo” a somar ao êxodo humano que constitui quaisquer migrações, a que temos assistido, em massa, nos últimos meses, assume contornos de calamidade humanitária; pelas condições em que se colocam os migrantes para saírem das suas terras de origem até às (também suas porque o mundo é do Homem) terras de destino, onde chegam – quando chegam - em condições verdadeiramente sub-humanas.
Por mais voltas que se dê, este é o problema central da Europa. Moeda? Eurogrupo? Dívida? “Sinfonia à grega”? Tudo isto é secundário ante o problema humanitário, por conseguinte político, que é de todos e não só dos “errantes”.
A “primavera árabe” trouxe-nos um “verão quente” que se soma ao já nosso “inverno demográfico”. Só não vê quem não quer o motivo pelo qual estes Humanos se deslocaram para a nossa geografia. É que ela constitui também aspiração e modelo de vida. Com paz, com saúde, educação, cultura e assistência social.
Está na hora da Europa fazer um “back to the basis” para perceber que o seu Modelo Social construído durante anos e que foi seu marco identitário permitindo construir a paz e o crescimento a que aspiram outros povos, não pode evanecer-se ao sabor dos mercados e de uma roleta sobrecapitalista que em overdose coarta as liberdades individuais, não propicia crescimento e emprego e está a dar machadadas significativas e muito perigosas na liberdade coletiva: a democracia. Tudo para alimentar o jogo! Sem rosto e sem Estado. Até chineses contagia…
Se é certo que poucos pretenderão um caminho desconhecido “varofakiano”, também não é menos certo que senão existir um revivalismo dos exemplos que foram Di Gasperi, Adenauer, Schuman até Jaques Delors entre outros, poder-se-á cair na tentação de falsos profetas – à esquerda e à direita – como os que polvilharam a Europa até à libertação de 45 do século passado, mais tarde para os portugueses - os que não foram também eles migrantes.
Bem Vistas as Coisas a Europa precisa de regressar ao seu Modelo Social e assumir de novo a liderança mundial na produção de cultura, conhecimento e solidariedade democrática entre os povos. Esta “re”- construção permanente só se faz com diálogo, tolerância, compromisso, dignidade de Estado e democrática e algo que vemos pouco porque a vaidade individual e os interesses “comezinhos” a ofusca: honestidade intelectual; esta é fundamental para a construção comum dentro dos valores que nos fizeram (fazem?!) sentir europeus.