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  • Foto do escritorOrlando Coutinho

1984


Cá por casa existe uma coleção de livros (Mil Folhas) que o Jornal Público lançou há uns anos e que a “consorte” – legítima proprietária pré-conúbio - tornou de “comum acesso”. São mais de sessenta títulos que estou percorrendo na esperança de colher dois ou três para o meu período estival de repouso que se aproxima. Detive-me na reminiscência de um que aliás titula esta crónica. Sem dúvida que a espuma dos dias nos conduz a esta peça que, Eric Blair, de cognome George Orwell – tornou atual para todo o sempre. A distopia “hobbiana”, diária, em que vivemos, fruto de uma propensão para a natureza primária do humano, não foi resolvida com o seu Leviatã; aliás o próprio, não imaginaria que o mecanismo que encontrara para suster o pensamento mais egóico do Homem, consequencialmente, levaria a que o “contrato social” se exacerbasse, em muitos casos, num darwinismo de Estado em que a máquina que controlaria a violência interpares se viraria, numa contenda desigual, para o próprio cidadão a ponto deste – dado o desenvolvimento tecnológico – já não ter, senão no sangue, capacidade de resistir.


George Orwell, que declarara simpatia “trabalhista”, mas repulsa totalitária à esquerda e à direita, adensou nesta obra um pensamento forte: a defesa da democracia em detrimento do homem como mero e circunstancial instrumento do Estado.

De forma mais cínica (Polónia, Hungria, Brasil…) ou mais beligerante (Venezuela) as formas de controlo de poder de modo não democrático e “contra-institucional” tendem a ganhar força sob a capa do Estado nos tempos que vamos vivendo. Estes, por proximidade (geográfica ou cultural por via da “estada” de portugueses), são exemplos entre muitos.

Para Orwell, já em 1949 - quando esta obra ganhou a luz do dia, era claro quais as "ferramentas" a usar nesta demanda autocrática. Com neologismos “simpáticos” o sistema jamais se torna obsoleto: controlar, com o “Ministério do Amor”; manipular, com o “Ministério da Abundância” e falsificar com o “Ministério da Verdade”. As “armas” de sempre numa realidade invertida e controvertida são usadas para uma harmonia “coletivista” onde o personalismo de Mounier não tem lugar.

Pobre Winston, que até o amor via fiscalizado, qual Big Brother que se coarta(?), por estes dias, da “redonda mama do glorioso”; talvez como Júlia!

Não há, pois, desculpas para os “vagueantes duplipensadores” que por aí pululam em defesas “maduras” de um “maio” sem saudades: ou se adota o “crimethink” de Goldenstein sobre a "Teoria e Prática do Coletivismo Oligárquico", ou pura e simplesmente se é do “Partido”. De um modo binário: ou se é democrata ou não democrata. Porque, em ideologias tão concentracionárias, já sabemos como acabou o “Império do Meio”: em “maoismo”.

Para quem não leu é uma boa oportunidade. Quanto a mim terei de procurar outro(s); mas a escolha é muita; porque de facto, quem não tenha a literatura como refúgio, deve ser (ter) difícil viver no século XXI.

Bem Vistas as Coisas, o visionarismo de Orwell ultrapassou o século XX; e 1984 foi em 49 como é em 2017.


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