Todos concordarão que a política externa portuguesa tem estado, pelas mãos de Santos Silva, muito ativa.
Além de não se ter parado com a chamada diplomacia económica, impulsionada por Paulo Portas, tem havido uma tentativa de afirmação de Portugal, no quadro das relações internacionais, que o governo, em estrita colaboração com o Sr. Presidente da República, concatena em estreita harmonia.
A dimensão de um país como Portugal, com várias e fortes comunidades espalhadas pelo Mundo, exige a atenção que os diferentes governos têm prestado.
A designada diáspora portuguesa tem a particularidade de apresentar e representar as suas raízes com a honra de quem faz bem. Nas áreas para as quais estão qualificados, os portugueses, ao longo dos tempos, primam por ser gente de trabalho, de excelência e de integração nas comunidades onde são recebidos. Sobretudo esta nova e qualificada geração, que na sua terra não tem oportunidades, firma valor além-fronteiras.
Se é verdade que a eleição de Guterres para a ONU tem muito de pessoal, o quadro diplomático português, naquela sede – como noutras – teve um papel não despiciendo. Não terá sido por acaso que o próprio, no dia da eleição, falasse a partir do Palácio das Necessidades.
Percebendo, como há pouco disse, que um país da dimensão de Portugal precisa de criar espaço para se afirmar no contexto globalizado em que vivemos; percebendo que tal se consegue melhor com a exposição dos excelentes recursos humanos que temos em vários domínios do saber; percebendo ainda que a nossa língua e as nossas comunidades espalhadas pelo mundo merecem todos os esforços de defesa; que há, ademais, necessidades de atração de investimento estrageiro por cá, há algumas questões que uma democracia adulta – como já somos – sugere escrutínio.
Três exemplos preocupantes em como a diplomacia portuguesa tem que explicar melhor os seus fundamentos ativos:
O caso Manuel Vicente, teve – por mais subterfúgios que lhe arranjemos – uma pressão política indireta sobre o poder judicial português. É certo que o novo Presidente de Angola é uma brisa institucional, nas palavras de ativistas democráticos como Luaty Beirão, que pode indiciar um “zerar o conta Quilómetros” nas relações dos dois Estados. Mas a subserviência das figuras de Estado da antiga metrópole afigurou-se evidente. Foi um virar de página ou é para continuar? É que este caso, no seio das relações entre países da CPLP, pode ter jurisprudência depois do fechar os olhos à adesão da Guiné Equatorial naquele que deveria ser um consistório político-cultural da lusofonia com as decorrências económicas que tem essa mais valia antropológica.
As relações intensas com ditaduras ou com sistemas protofascistas e comunistas. Reparemos com quem Portugal tem dialogado - Rússia de Putin, EUA de Trump e até ao final do ano o Presidente Xi Jinping. Uma condescendência absoluta com Maduro, uma “camaradagem” com o tenebroso Temer, enfim uma duplicidade que – enquanto democrata – me faz imensa confusão, se não for bem explicada.
Uma progressiva desistência da União Europeia. Aquela que Putin e Trump querem enfraquecer, porque é democrática; aquela que procura manter o sistema de alianças na defesa, como a Nato, que Trump quer romper; aquela que vive a braços com uma crise migratória provocada pelas guerras desencadeadas pelos EUA e Rússia no norte de África; aquela que resiste à fúria libertária e consegue manter um sistema de proteção social único no globo. Aquela que precisa de reformas para ultrapassar os constrangimentos dos países periféricos, como nós, mas que sem o contributo dos próprios não é possível.
A colocação de Centeno para cumprir a ortodoxia do “pobre mas honrado” é uma vitória curta sempre que temos um qualquer assessor burocrático desconhecido de todos e desprovido de legitimidade democrática a afirmar que “Portugal tem que reduzir a despesa na saúde e na educação”… Chamar vitória ao prolongamento do sofrimento grego somente pelo alívio cronológico das prestações, não parece solução. E as omissões ao bafiento regime húngaro e aos seus irmãos fascistas da Liga Norte que já têm nas mãos poder demasiado, requer atenção de quem acredita na União Europeia como espaço de liberdade.
Sim, estamos todos entusiasmados com o “show de bola” – não havia melhor comentador para falar da equipa das Quinas – que Marcelo impôs ao ignorante e fascista Trump. Mas a atenção aos três pontos anteriores deve merecer esclarecimentos dentro do quadro democrático em que nos movemos.
Bem Vistas as Coisas, Portugal não é os EUA, mas só um bom “televisionável” – em ambos os casos - é que chega a Presidente.