top of page
  • Foto do escritorOrlando Coutinho

Branco mais Branco não há!


Jerónimo de Sousa – com quem os portugueses no geral aprenderam a simpatizar (com ele, não com as suas ideias) exatamente pelo seu espírito e expressões populares - terá dito sobre Ventura/PSD: «voltou para a barriga da mãe»! E Pacheco Pereira, neste artigo que deve ser lido, “Injectar lixívia na política”, minimiza a raiz antidemocrática do marxismo-leninismo – como aliás muitos o estão a fazer atualmente na sociedade portuguesa – para traçar um “cordão higiénico” entre o comunismo, legitimado, e o pérfido fascismo. Quem viveu num, ou noutro, dizem horrores; se bem que há mais exemplos hodiernos do primeiro do que do segundo em Estados relevantes na geopolítica mundial. São, digamos, todos maus. Quem não vê isto é cego, ou então, parafraseando Jerónimo e bem – tem na sua génese de formação política, princípios totalitários, ou os Estados e não o Homem, são vistos como eixo central da vida em comunidade, ou seja – são todos filhos da mesma mãe!

Sobre o texto de Pacheco, há um esforço olímpico para dizer que os comunistas já não são comunistas e o tempo corroeu o antiliberalismo da extrema esquerda portuguesa somada – que está normalizada e enquadrada - e que nem se deve dar tempo à extrema direita, “nascida agora” (pensará mesmo isto Pacheco?!), para que a democracia saída de Abril incorpore estes como aos primeiros. Podemos, pois, esquecer o longínquo 25 de Novembro, assim como as loas (muitas delas em sede parlamentar) à Coreia, à Venezuela, à tragédia da queda do “muro da vergonha” e ao cinismo desmemoriado de doutas figuras públicas – como a Diretora do Museu do Aljube (como terá lá ela chegado se o PCP não governa?!). Não podemos é esquecer as soluções anti-humanistas e democráticas que o Chega propõe, muito embora os portugueses que lhe conferem o voto (haverá também lá saudosistas, mas como disse recentemente Luís Pedro Nunes no Eixo do mal “vi lá portugueses normais”) – discordo, pois, no essencial de Pacheco – são os que reconhecem um diagnóstico bem feito, que os partidos ditos tradicionais já não são capazes de o fazer, como sejam: uma sociedade que continua a viver com grandes dificuldades (20% da população é pobre) e a ver, sem combate digno e real, o proliferar da corrupção até às mais altas esferas do Estado.

E tudo isto vem a propósito das eleições dos Açores. Que, aliás, o Chega e o seu líder perderam em toda a linha (tendo-lhe dado Rio e a geringonça uma vitória mediática sem correspondência nas urnas), assim como o PS e toda a extrema esquerda. Senão vejamos: o PS vinha de uma maioria confortável e perdeu-a; por erros da governação Cordeiro/César e por desdém de Costa que – passeando-se por todo o país - nem se dignou a pôr os pés nos Açores atirando-os ao abandono e dizendo-lhes que não poderiam contar com ele. A extrema esquerda ou foi extinta (PCP) ou tornada irrelevante (BE) já que as soluções propostas e a falta de envolvimento das lideranças nacionais foram demasiado evidentes.

Quem apostou tudo? Ventura que iria ao seu primeiro grande teste pós-legislativas e Chicão ameaçado internamente por quem jamais aceitou o resultado do último congresso do CDS. O primeiro afirmou “seremos a 3ª força política e jamais o sistema, com quem não pactuaremos será como dantes”! O segundo, dizendo convicta e serenamente que era a direita confiável, democrática, humanista e o porto seguro com soluções moderadas.

Ambos se abancaram nos Açores por 15 dias, sendo que o deputado radical suspendeu o mandato na AR para se dedicar à legitimação – pelo voto – da sua força política que vinha de um Congresso mobilizador. Os resultados foram evidentes. Chicão ganhou em toda a linha: nas urnas, provando-se que o CDS era de facto a direita confiável, democrática e humanista e no Partido cujos oponentes voltaram a não ver margem para o derrube. Teve o dobro dos deputados do Chega (embora 1 em coligação) sendo que este se ficou pelos mesmos do PPM (também este em coligação com o CDS). A marca Ventura saiu humilhada dos Açores; assim como toda a esquerda. O PSD Açores - cuja máquina nacional também não mobiliza e foi dando sinais contraditórios sobre o cenário pós-eleitoral – subiu e, por via parlamentar, viu a possibilidade de entrar no jogo da disputa do poder.

O que fizeram os quadrantes políticos com estes resultados claros?

O PS “desdisse-se”: ganhamos porque fomos o primeiro; o parlamento aqui não é igual à AR; somos nós que temos de governar; esqueçam 2015!

O CDS: “criaremos todas as condições para apoiar um governo democrático de centro-direita”.

As extremas (esquerda e direita) não se ouviram, de início, tal tinha sido a vergonha da derrota.

Cabia, pois, ao PSD, por mais “ais” de Costa, Carlos César e parentela, liderar o governo da região autónoma. Havia, porém, um senão: os deputados do PSD + CDS+PPM, a nova coligação, eram ainda insuficientes para a prova parlamentar; a olhar para o mais fácil, a direita, ainda que extrema, só com o Chega era possível a equação. Quid iuris?

Os partidos políticos portugueses estão carecidos de visão estratégica e há muito puseram de lado os seus princípios ideológico-doutrinais. Jamais veríamos Soares “geringonçado” ou Sá Carneiro “extremado”. E a falta de preparação e cultura política dos intervenientes eclodiu no “caldo político” a que vimos assistindo. O PSD foi pelo mais fácil e o tático: deu a mão ao Chega, o que deu ampla margem para a extrema esquerda (com o apoio do PS) para falar nos perigos da cedência à extrema direita. Esta, por seu turno, derrotada nas urnas viu-se renascer das cinzas assinando de cruz 4 pontos comuns (discutíveis, mas comuns) e com a astúcia do seu líder, começou a comandar o processo mediático, aparecendo como os centrais vencedores de uma contenda em que foram 5º “ex aequo” com o 4º na representação parlamentar. Depois é o que sabemos: redes sociais (e não só) incendiadas com o PS, que perdera a “sua coutada”, tentando deslegitimar o novo governo, a extrema esquerda justificando a sua existência com a ascensão do “fascismo”, a direita partidária oposicionista - que espreitava a oportunidade de assalto - a autodenominar-se higiénica: “com estes nunca”!

O PSD como formação liderante do novo governo deveria apresentar-se ao parlamento sem acordo nenhum com o Chega. E esperava pela votação. Se o Chega votasse o governo passava e reconhecia, em sede institucional, uma vez mais a sua derrota, normalizando-se; se votasse contra, a par de todos os outros, mostrava a sua inutilidade, já que não construía nem deixava construir, nem era alternativa ao socialismo, como afirma.

Claro que os higienistas de esquerda – como Daniel Oliveira – vieram apressadamente falar em Angela Merkel para dizer que esta na Turíngia interpôs-se a uma coligação com a extrema direita preferindo viabilizar um governo de esquerda. Já o exemplo apresentado não serviu de espelho a nenhum arrazoado homem de esquerda, já que estava nas mãos destes apoiar a nova formação governativa de modo a deixar de fora – mesmo parlamentarmente – a extrema direita. Isto é, o PS – abstendo-se - podia, perfeitamente, viabilizar o novo governo dos Açores sem que este tivesse de sujeitar-se a negociações espúrias. Era pedir muito? Sabendo quem é, a pergunta é retórica; já basta terem dado o apoio camuflado a Marcelo Rebelo de Sousa.

A esquerda revolucionária e conflituante – ao contrário do que diz Pacheco Pereira – não queria nenhuma solução e este chavascal é o ideal para a sua justificação no cenário político português.

Mas vemos alguma surpresa no PSD de Rio em não tentar a via digna e encostar a extrema direita e o PS à parede (já que a culpa seria de ambos se não viabilizassem o novo governo, mas até que isso acontecesse iria passar muita água pela ponte – bastaria convencer Marcelo que pôr a solução nas mãos de Ventura lhe dava balanço para as presidenciais e o resto aconteceria numa reunião semanal em Belém) e ser verdadeiramente um partido de centro (que não é com este líder) como Pacheco Pereira ambiciona? Eu respondo com um NÃO redondo. Rio, serei benevolente, arvora-se mais no que Weber chamara a ética das convicções, para pôr de lado uma cultura político-democrática em que revela muitas fragilidades. Rio é antiparlamentar, são vários os enxovalhos à casa da democracia e aos seus membros; Rio quer ingerir na Justiça, na Comunicação Social, faz tábua rasa das decisões democráticas do Congresso do PSD e podia continuar. Rio é, de facto, um problema democrático; não só pelo taticismo regional dos Açores, mas pela soma de toda a sua prática política quer autárquica quer nacional. A sua única aposta é no cansaço do PS. Mas esconde todo o jogo a seguir: programa e políticas, sendo que os exemplos são assustadores. O PSD devia ver isto para evitar uma hecatombe sem regresso nos seus princípios fundacionais, dando margem clara aos extremos

Sobre António Costa – que está farto de governar, tal é a inação e desnorte, mas que está comodo no poder – enquanto secretário-geral do PS, em todo este processo, ele que foi o primeiro legitimador em via parlamentar de movimentos radicais, está tudo bem. Enquanto soa a polémica menos se fala nos graves problemas que o país enfrenta e enfrentará e que são, em parte substancial, da sua responsabilidade direta e indireta; para além, claro está, do gozo interno da fragilização de Carlos César.

Em conclusão, o mais Estadista, responsável e democrata dos líderes partidários em todo o processo açoriano – que serviu somente para aferir a escala axiológica dos valores democráticos e ideológicos a que respondem – foi o Dr. Francisco Rodrigues dos Santos. Pois é: o Chicão do CDS foi o mais maduro de todos e um homem em que se pode democraticamente confiar: gostem ou não do que ele apresenta como proposta política.

Já Pacheco Pereira e tantos quantos tentaram “injetar lixívia na política” para limpar o sangue de uns, para apontar ao dos outros, deveriam saber que, em democracia, todos os votos contam e a visão simplista de que quem vota em Ventura é um antidemocrata “troglodita”, foi a mesma arrogância intelectual que levou Trump à Casa Branca. A um voto corresponde uma expectativa, uma exigência, um protesto, um estado de alma, um projeto, um sonho, uma igualdade, uma voz que conta. E se os verdadeiros democratas não forem capazes de serem autocríticos, vozeirando em polos diferentes de uma barricada que sabemos estéril, não há lixivia que os valha, porque:

Bem Vistas as Coisas, “branco mais branco não há”

45 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Dhimma

bottom of page