É uma delícia a leitura da obra poética deste autor brasileiro do século passado que a academia coloca na segunda vaga do modernismo brasileiro, a par de outros adorados como Vinícius de Moraes.
Cá por casa depois da “devoragem”– a sua Antologia Poética - é consulta perdurável e compassada de tempos a tempos.
A edição é da D. Quixote, a quinta, de 2015.
Não resisto, para abrirem o apetite, partilhar um dos meus favoritos:
O enterrado vivo
É sempre no passado aquele orgasmo, é sempre no presente aquele duplo, é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra. É sempre no meu tédio aquele aceno. É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato. Sempre na minha firma a antiga fúria. Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite. É sempre nos meus lábios a estampilha. É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe. Sempre dentro de mim meu inimigo. E sempre no meu sempre a mesma ausência.
A angústia, a ansiedade, a perenidade da ausência e a dicotomia entre o sentimento das palavras e o efeito que delas derivam a outros, está condensado nestas magnificas estrofes.
Bem Vistas as Coisas, não se sente uma parte importante da História do Brasil sem uma passagem por Carlos Drummond de Andrade.
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