Este artigo, de minha autoria, foi originalmente publicado no Jornal de Guimarães a 9 de Agosto de 2022.
A época estival é convidativa a que muitos daqueles que têm vidas de trabalho árduas aproveitem o verão para colocar leituras em dia. Permitam-me, pois, dar uma sugestão, com créditos devidos à Ana Lemos que me guiou nesta descoberta, de um autor vimaranense, Guilherme de Faria, que mereceu honrosa investigação em tese de doutoramento apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pelo Professor Doutor José Rui Almeida Teixeira.
O poeta, nascido nos inícios do século passado em Guimarães, cedo fez trânsito entre a terra natal e a capital. Em Lisboa, relacionou-se com vários literatos da época e chegou mesmo a ser editor de Teixeira de Pascoaes.
De vida curta, por imposição própria – levando ao extremo um romantismo exacerbado personificado na figura de Emília, irmã de Manuel Castro, seu amigo – Guilherme de Faria tinha um espírito sensitivo pouco enquadrável aos ritmos académicos correntes, donde aliás, não lhe é reputada grande notoriedade. Porém, a capacidade de se envolver em causas, ter-lhe-á dado os olhos para lá do mundo, capazes de transformar sentimentos em poesia.
Das ideias que abraçou, não infligiremos danos à verdade se – na umbrela do Integralismo Lusitano - o colocarmos num certo tradicionalismo católico, com veio monárquico e de propensão carismática. Talvez por isso, uma certa simpatia sidonista o tenha levado à defesa do político até por via panfletária. Mas se o contexto tem relevo para o enquadramento o perfil poético, a sublevação da escrita em verso consome, não raras vezes, as impressões que se podem prefigurar. Senão vejamos, alguém com uma vida de vinte e um anos pode deixar uma marca tão impressiva no neorromantismo lusitano a ponto de merecer detalhada referência? A resposta é positiva e Hernâni Cidade justifica: «A sua sinceridade não precisava de que tão fúnebre selo a garantisse».
Pode dizer-se então que em boa hora a “Officium Lectionis” reeditou, já em 2021 e com apoio do Ministério da Cultura, “Saudade Minha, poesias escolhidas de Guilherme de Faria”. E quão melhor seria se o Município acolhesse a sugestão do novo Presidente do PSD local, Ricardo Araújo, promovendo anualmente uma Feira do Livro tendo como “pano de fundo” um autor vimaranense.
Como nos tem dito Carlos Caneja Amorim, Guimarães, que albergou a patente de Capital Europeia da Cultura, não pode esmorecer no seu património imaterial; a música, as artes e as letras devem ter papel central. E o “Livro”, analógico, deve ter especial proteção num mundo em bolha tecnológica.
Em remate, uma quadra, inscrita na edição citada e para aguçar o apetite pelo autor, que podemos encontrar na página 64 do poema “Balada do Fim do Mundo” dedicada a D. Domingos Teles da Gama e que reza assim:
«E por sobre o cemitério Da vil natureza humana, No seu divino mistério, Vai seguindo a caravana…»
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