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  • Foto do escritorOrlando Coutinho

Ideologias


Tive a felicidade de ter como Professor, no Mestrado de Filosofia Política, o Doutor João Cardoso Rosas que preside, atualmente, ao Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho. Juntamente com Ana Rita Ferreira, decidiram ambos, organizar um pequeno compêndio que abarca aquilo que também dá título ao livro: Ideologias Políticas Contemporâneas.

A reimpressão que tenho é de 2016 editada pela Almedina e acho pertinente a sua leitura nos dias que correm, tais são os ziguezagues ideológicos a que vimos assistindo na sociedade portuguesa, mormente promovidos pelos partidos políticos em cena, a tão poucos meses, antes de umas eleições legislativas. Vejamos: comunistas afirmando que há greves contra o povo e não contra o patronato; esquerda radical calada; socialistas a promoverem requisições civis avulsas, usando militares para substituição de grevistas e polícias para tirar de casa trabalhadores que querem usar um direito constitucional previsto; liberais a simpatizarem com greves; conservadores, mais “papistas que o Papa”, a carregar na tecla que ainda se devia ir mais longe que os socialistas no poder.

Quem lê este manual e observa o pancresto português, suporá erro de boticário. Debalde! É a peculiaridade lusíada a emprestar novos compostos a esta ciência esotérica que se chama política.

A discricionariedade tática dos partidos políticos - herdeiros e fazedores, na maioria da sua praxis, das ideologias políticas contemporâneas – em virtude das eleições legislativas que se avizinham, minam a confiabilidade no sistema político como um todo e fragilizam, de sobremaneira (até porque estamos a falar de princípios estruturantes), todo o edifício democrático.

Será, por isso, bom ler o que nos dizem Miguel Cardina e José Soeiro sobre os movimentos sociais emergentes e a sua influência na distensão do que é a esquerda mais radical; as novas versões comunistas, por João Valente Aguiar, numa era pós-soviética em que temos a China encantada com o capitalismo de mercado; as metamorfoses do socialismo democrático com a terceira via de Giddens e os desafios presentes que Ana Rita Ferreira ensaia; os liberalismos de hoje, que Orlando Samões narra, do mais lato ao mais canónico; e por fim, o conservadorismo que José Tomaz Castello-Branco tão bem descreve. Ficam a faltar – quem sabe numa revisão aumentada deste ensaio possa vir a incluir – duas correntes que se podem (uma delas não tenho dúvidas que sim) afirmar e solidificar no panorama político em geral. O animalismo, que superará o abordado ecologismo, tradicionalmente mais confortável e albergado nos movimentos de esquerda, eventualmente aglutinando e ganhando densidade. E a democracia -cristã, que aqui foi absorvida pelo conservadorismo – onde tradicionalmente é a sua casa – mas poderá, a ver vamos se há forças para tal, assumir um legado mais progressista e interventivo na senda dos apelos de Roma com a nova aragem de S.S. Francisco, apesar das grandes resistências internas.

De qualquer dos modos, bom de ler e aconselhável como vacina dos tempos próximos.

Bem Vistas as Coisas, toda a ação tem cunho ideológico; resta saber, se protagonizadas pelos artistas certos.

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