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Foto do escritorOrlando Coutinho

Por Um Populismo de Esquerda


Tive a honra de ser convidado pelo Clube de Leitores de Filosofia de Braga, em fevereiro de 2020, para apresentar o livro de Chantal Mouffe, filósofa política belga, que nos traz nesta obra um novo paradigma para a esquerda mais inconformista.

Traçando uma visão dissociativa da política, ideia aliás que já havia defendido em “Hegemony and Socialist Strategy” com o seu marido Ernesto Laclau, onde impera o antagonismo conflituante, na exata medida de que o que está em jogo é uma disputa de interesses díspares entre os diferentes protagonistas sociais, a autora vê a sociedade como um produto de práticas hegemónicas que procuram esconder a raiz do poder e estabelecem uma ordem social hierarquizada. Contudo ameniza o teor combativo com o conceito “agonístico da democracia” onde o pluralismo é salvaguardado.

Partindo de uma crítica detalhada ao neoliberalismo, a filósofa pensa que vivemos um momento populista que deve ser aproveitado pela esquerda. Bem certo é que o populismo, no contexto que adota, tem a circunferência limitada ao que descreve na página 22 da obra editada em 2019 pela Gradiva: «uma estratégia discursiva para construir uma fronteira política que divida a sociedade em dois campos e apela à mobilização dos miseráveis contra os que estão no poder». A apologética proposta pela autora – pegando neste exemplo – é a repolitização do espaço público, nomeadamente à esquerda, através do que designa “uma radicalização da democracia”, adotando, como método, um reformismo puro, contudo, aceitando as regras democráticas, colocando assim de lado propostas radicais impositivas de outros modelos económicos ou revolucionárias como o marxismo mais tradicional. Reformula, nesta senda, o conceito de “povo” que na sua ótica deve ser uma construção entre diferentes identidades que se “colem” por reconhecimentos mínimos, mas que permitam, tão só, uma identificação comum que leve a um sobressalto cívico na participação ou “radicalização” democrática onde esquerda volte à dimensão axiológica da igualdade e da justiça social.

Com muitas dificuldades organizativas e políticas, pelo dualismo que comporta o lado prático desta proposição (ser contrapoder e querer reformar as organizações), o ensaio português desta formulação assemelha-se – partidariamente – ao Bloco.

É um bom ensaio para quem goste de estudar ideologias.

Bem Vistas as Coisas, o conceito populista pode ser polissémico: tanto à esquerda, como à direita.

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