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  • Foto do escritorOrlando Coutinho

Saudade


Da saudade como via da libertação do filósofo português contemporâneo Paulo Borges é um ensaio apropriado para leituras nas vésperas de entrarmos em Agosto. De facto, este mês – ainda que os efeitos pandémicos se façam notar – é, como traduz o autor na síntese que titula o seu livro, uma via libertadora para tantos portugueses que transportam consigo a saudade ao longo do ano nas diferentes geografias que os acolheram para tornarem as suas vidas melhores.

De facto, a saudade é como o próprio descreve na página 33 da obra - que tenho o privilégio de ter autografada com dedicatória numa das suas passagens por Guimarães em que fui brindado pela serenidade própria de grande pensador - «Filha da inalienável e irrecusável plenitude sempre presente e da ilusória diminuição da sua experiência na génese do sujeito e da percepção objectivadora, a saudade é todavia manência nessa plenitude antes de ser memória-desejo dela».

O convite existencialista à reflexão consciente sinalizado por Paulo Borges e que através da saudade muitos emigrantes, ao regressarem a Portugal no estio, sentem, pondo cobro a uma incompletude que os atormenta durante o ano é detalhado na página 91: «É que é difícil abdicar da ilusão pela qual nos cremos reais tal qual nos pressupomos, mesmo que ela nos custe o vivermos à margem da plenitude».

Na verdade, o português, errante e armilar como a esfera global à qual deu sentido humano pela sua aproximação e presença é o paralelismo descrito pelo autor na página133 «O nómada e asceta da Saudade aumenta o valor e sentido do universo na exacta medida em que, reintegrando-as no vácuo pleno, anula o sentido e valor das suas definições mundificantes (unicamente para as quais surge a questão do valor e do sentido)».

Bem-vindos, pois, os portugueses que – não matando, mas dando-lhe uma nova significância – trazem a saudade no peito aspirando a libertação.

Bem Vistas as Coisas, a saudade pode mesmo ser uma via expiatória da libertação.

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