Faz por esta altura 9 anos que me dei ao sonho de passar 15 dias na Índia.
Já havia lido a obra que titula esta peça. Constava nas recomendações bibliográficas da cadeira de Antropologia das Religiões que perpassou na licenciatura. Não que a sua magna parte se centre em especificidades esotéricas, contudo, a Índia é ela toda espiritual desde que se chega até à simples recordação de quem por lá teve a oportunidade de estar e neste caso, de a descrever.
Alberto Morávia faz, com este “diário turístico”, uma historiografia bastante pormenorizada e descritiva de uma geografia que consagra ao divino a sua forma de vida terrena e, com a sua densidade, coloca a obra nos ícones da literatura de viagens. Nela não faltam os condimentos que os olhos do autor compreendem sobre os sistemas de castas, a pobreza, os locais turísticos, a aventura que é viajar naquele território e muito claramente a religião e os aspetos culturais de um encontro que ali é milenar.
Claro está que, um candidato europeu a viajante na Índia, terá de ater-se com circunspeções que habitualmente só lida com a mediação das telas internáuticas ou televisivas e que Morávia adverte << Para o viajante ocidental, dotado de sensibilidade, a Índia significa dois traumas: o primeiro é aquele que é provocado pelo encontro com uma pobreza enferma… o segundo resulta do choque com a religião politeísta de fundo naturalista…>> Porém, quem der o passo rumo à descoberta do divino, que por ali é multi – interpretável, certamente que não terá destino com melhor escolha; e este livro, que na estante cá de casa tem edições da Tinta da China, será certamente um auspicioso aperitivo, porque – apesar da quimera de Morávia se centrar na segunda metade do século XX, o perfume que dele brota é perene, e é o próprio que o diz <<Os olhos não sabem onde pousar…>>
Bem Vistas as Coisas, a ideia que Morávia fez da Índia constitui um bom estimulo a quem pretenda lá ir.